sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Caminho do Cético

Pirro de Élis já afirmava, por volta de 300 a.C., que o conhecimento sobre qualquer coisa é impossível (acatalepsia), e que seria perfeitamente possível contradizer qualquer argumento (antinomia).
    Já Protágoras de Abdera, por volta de 400 a.C, foi o autor da célebre frase:


    "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."



    E isso significa que cada homem é responsável pelos seus próprios conceitos. Dessa forma, não existe uma verdade universal, já que todas e cada coisa são conhecidos de forma particular, excluindo absolutamente qualquer vestígio de visões dogmáticas. Essa visão nega totalmente a ideia de "ser".

    Unindo essas concepções com os estudos da linguagem, de Charles Sanders Peirce, mais especificamente a "semiose", chego a uma conclusão que aprofunda ainda mais o niilismo da situação. Ainda, porém, é necessário dizer que o precursor da semiose não foi o inventor da mesma. E mesmo ele não conseguiu deter a evolução da própria teoria! Como uma rolha numa garrafa de champanha fina, a semiologia estava pressionada por séculos de dogmatismos filosóficos, esperando o momento de sua "descoberta" para enfim defender a posição relativista. Nela, como num cartaz enorme, vinham grafadas as verdades:


1 - Quando um homem diz algo, a menos que esta seja a única coisa que ele tenha dito, se contradiz em muitas outras que já disse e que irá dizer.

2 - O homem não cria absolutamente nada. Apenas nomeia as coisas imaginadas, baseadas em ficção particular ou em ideias abstratas de coisas existentes, mas carentes, ainda, de definição dialética.

3 - O homem nada conhece. E mesmo que conhecesse, não seria capaz de comunicar - limitação linguística.

4 - Toda invenção humana é mera coisificação simbólica de algo que já existe naturalmente.


    Na verdade, o novo cético apreende do passado um temor de todo e qualquer argumento.

 "Temor de que as sublimes aventuras do discurso filosófico não sejam mais que exemplos particulares das infinitas combinações possíveis de um prodigioso jogo de palavras".
Pereira, Oswaldo Porchat - Rumo ao ceticismo. Editora UNESP, 2007; Pag.23


   Este vem ao encontro dessa "dança do estudo das linguagens".
    E Pirro previa esse temor, dizendo que já que nada pode ser conhecido, a única atitude adequada é ataraxia.

    Então, me parece, o melhor há ser feito é resguardar-se e evitar a falácia dos "neo-sofistas"



A suspensão do julgamento / juízo

   
    Diz-se que Pirro era tão cético que isso o teria levado a agir de maneira insensata. Segundo Diógenes Laércio, não se guardava de risco algum que estivesse em seu caminho, carroças, precipícios ou cães. Certa vez, quando Anaxarco caiu em um poço, Pirro manteve-se imperturbável, conforme a sua filosofia, não socorrendo o mestre. Enesidemo argumenta, porém, que Pirro "filosofava segundo o discurso da suspensão do juízo, mas que não agia de maneira inaudita". Parece confirmar essa observação o fato de Pirro ter vivido até os 90 anos.
    De fato as pessoas agem manipuladas mesmo por concepções pragmáticas, munidas de conceitos subconscientes absolutos.
    Pode parecer antissocial, mas, segundo a corrente cética, o melhor a ser feito é ignorar as ações alheias e os fatos decorrentes, as reações. Não significa deixar de analisar, apenas não se preocupar em descobrir motivos, nem desvelar as conceitos, julgar e condenar. Seria um "gasto de energia" desnecessário, e um igualamento à postura dogmática. Sócrates, à exemplo de Parmênides, segundo nos conta a história (Platão), rendeu-se a disciplina observativa-analítica-definitiva. Queria quantificar e qualificar o "ser", e definir de forma absolutista o real valor das coisas, no intuito de chegar às origens.
    Resultado: todo o trabalho dele, assim como os que seguiram essa doutrina, foi e é alvo de refutações, ridicularizações e postergações.
   "Nada vindo do homem é infinito", já diziam alguns sábios. Então, despender precioso tempo e energia em algo que certamente será alterado e refutado pela posteridade não lhe parece algo produzido em vão?