sábado, 4 de maio de 2013

A Ação Íntegra

   
Dois jovens monges foram incumbidos da edificação dos muros do seu templo shaolin. Um era responsável pelas laterais, leste e oeste, e o outro dos lados anterior e posterior. Cada um deles reuniu um grupo sob suas ordens, e começaram o trabalho. 
 Um deles usou uma massa de barro bem próximo do templo. Era essa uma massa simples, do conhecimento de todos, e seu uso nas edificações fragilizava-as a longo prazo. O outro, mais atencioso, fora buscar boa massa na entrada de uma cidade à várias léguas de seu templo. Em quatro semanas, os muros laterais que foram erguidos com massa simples estavam prontos. O monge fora elogiado pelos superiores. Já os outros lados, que estavam erguidos com boa massa, estavam ainda na metade, e o monge responsável caia no conceito dos superiores.
Vários anos se passaram, até que esse templo fora cercado pelo exército Manchu. Eles forçaram a entrada, e perceberam que as laterais estavam mais propensas a serem derrubadas. E foi por ali que entraram. E assim o templo foi rápido e totalmente destruído, pegando quase todos de surpresa. Restaram apenas os imponentes muros de frente e de trás. Todos os monges morreram, inclusive os filhos dos dois monges incumbidos de erguer os muros do templo. Todo o arquivo fora queimado, e os ensinamentos e história do templo foram destruídos junto com seus criadores.

Bem, essa história responde por si. Se o monge que ergueu os muros laterais também tivesse atentado para uma boa massa, ao invés de ceder à preguiça, provavelmente o templo não seria invadido, ou pelo menos poderia suportar mais tempo, dando chance à reação.


Ao ser incumbido de uma tarefa, execute-a com perfeição e atenção. Note que nem sempre isso significa mais complexidade. Uma ação mal-feita tem como vítimas muitas outras pessoas. O melhor, sempre, é se manter organizado. Uma mente organizada resulta em ações organizadoras. 

A higiene, a disciplina, a inteligência, o conhecimento específico são os elementos que constituem uma ação íntegra. O trabalho é dignificante. O trabalho duro e bem feito é dignificante, elogiável e recompensador...

domingo, 24 de março de 2013

Problemas da Linguagem no Ensino: Razões e Objetivos

 

 Temos dois problemas muito distintos que envolvem a linguagem: 

 

  O primeiro problema, e relativamente mais simples, é analisar o conteúdo filosófico aplicado, o uso dos termos e a didática das teorias: se são realmente assimiladas como deveriam, e, se não, se o problema é o método do docente, o entendimento do discente, ou, ainda a própria teoria. Teríamos nesse primeiro problema a escolta das teorias dos filósofos da educação e de Saussure, bom contribuinte à filosofia da linguagem, que propôs as ideias que mais tarde deram origem ao estruturalismo, posição que considera a língua como um sistema estruturado por relações formais e não evidentes para a consciência do falante, e que, metodologicamente, preconizam a observação do maior número de fatos, de modo a fundamentar proposições que, pela generalização rigorosa, possibilitem a descoberta da estrutura.
  O segundo problema é muito mais profundo, e envolve conceito, antropologia, semiótica e episteme. Trata-se da linguagem como símbolo, uma captura da nossa sinestesia frente ao fenômeno das coisas: são essas capturas parciais ou completas; corretas ou erradas? São construções naturais? Ou são “manipuladas” pela nossa bagagem empírica, limitadas pelos nossos conceitos políticos, éticos e morais, pela nossa predisposição, necessidade e/ou expectativa, e, ainda, será que esse conhecimento pode realmente ser comunicado, já que sua gênese já se mostrou tão burocrática, complicada? Ou seriam ainda coisas mais profundas que fogem à nossa lógica? Ou podem ser meras divagações complexas desnecessárias, que servem para mitificar o ensino de filosofia e tornar a filosofia um jogo de retórica imponentemente prolixa,heraclitianamenteobscura, como pede o âmago místico do homem?

  Eis um exemplo de simplificação em Popkin, usando a teoria de Locke, que evitava o ceticismo admitindo que poderíamos não ter qualquer real conhecimento além da intuição e da demonstração, mas que ninguém [...] duvidasse que o fogo é quente, que as rochas são sólidas, etc. (LOCKE apud POPKIN. A Companion to Epistemology. Oxford: Blackwell, 1997, p. 2)
A ideia de se analisar os fundamentos linguísticos na filosofia são justamente para se separar a disciplina dos mitos e enfim resolver uma forma de se transmitir a filosofia de forma eficiente e, porquê não, interessante e chamativa - do ponto de vista didático; lembrando-se que, se estamos a tratar do ensino médio (período onde as disciplinas tendem a despertar interesse muitas vezes não pelos seus dados complexos, mas pela sua capacidade de serem entendidas na vida prática dos aprendizes, e de possuírem uma forma de transmissão atual, clara, desafiadora ao intelecto) precisamos realmente dessa pedagogia.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Primeiro Amaterasu: Aforismo



O conhecimento de qualquer coisa caminha a um aforismo.

 Quando se conhece o aforismo, chega-se a metáfora.
 Quando se desvela a metáfora, voilá: eis a essência - não-linguística, não-semiótica, não-lógica à nossa instância, não simbólica, e nem contraditória.
  Não-refutável, pois é o todo, e abriga em si todas as possibilidades de se contradizer as contradições e sintetizar as refutações como meras concepções semióticas, resultado de um jogo começado com peças erradas, num tabuleiro desconhecido.

   Só o aforismo já liberta a sede epistemológica. É um vetor que contém tudo sobre qualquer coisa, e fatalmente responde a tudo a que esse conhecimento corresponde.

O aforismo é o fogo Amaterasu das bibliotecas. É o temor do dogmático. É a lâmina que escarmenta Descartes, Sócrates e Platão - não por terem sido dogmáticos, mas por não terem chegado ao aforismo, e declarado conhecimento criminoso a respeito do tudo-nada.

 O aforismo é Amaterasu por destronar violentamente o pensamento lógico, e tornar cinzas uma história ricamente pobre, atraindo ódio dos pensadores e da própria história.

 O aforismo é apenas agraciado e aguardado pelo futuro. Aliás, na gênese temporal de nossa instância, a perspectiva amorosa do aforismo já era embrionária na metáfora, e essa na essência.

 Aforismo é Amaterasu, não por só ser fogo, mas por ser também luz. É a fênix de si próprio, e o guardião da sensatez. Quando se conhece aforismo, se tem o primeiro passo para a luz. Quando essa luz chega, toda a teoria torna-se vazia, e o conhecimento de algo torna-se absoluto e claro. Não se é mais necessário desgastar-se nos porões das literaturas.

Ainda, aforismo não é resposta. É caminho. O caminho que leva ao Tao, à verdadeira ataraxia e a sublimação do espírito caçador da verdade. E a verdade é uma só, não um 'infinitaenesimal' manuscrito téorico. É palavra de uma letra só, e permeia toda a constituição do cosmos.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Herdeiros da Filosofia


 Raríssimos são, nesse plano terreno atual, aqueles que nascem para a filosofia.

 Desses raros gênios, muitos têm preguiça de pensar.
   Outros descobrem o talento e morrem calados.


Dentre os poucos restantes, muitos são arrogantes, egocentristas e dogmáticos.
 Uma parcela dessas se salva, descobrindo o amor ativo do sistema, introduzindo-o ao modo de se pensar em algo genuíno e primordialmente humano.

 Dentre esses, alguns falam.
 E, entre esses, algum sobra, afinal, que produz algo de valor a cada temporada dos ciclos terrenos...

 ...mas, no final, nenhum deles é ouvido em tempo, e quando o é, quase nunca acontece da forma como se deveria...

Linguagem e sua Relação Filosófica e Científica Com o Conhecimento



É razoável pensar que a filosofia aplicada no meio social é um utilitarismo que compete aos domínios primordiais das ciências sociais, empiristas por natureza, mas, se assim o for, também podemos pensar que os fundamentos teóricos das transformações são genuinamente filosóficos, advindo da razão, apoiados pela pesquisa e organizadas em sistemas que, ora ou outra, direcionam-se à teleologia.
Filosoficamente, a linguagem impõe limites ao conhecimento, e, cientificamente, a linguagem é ferramenta de comunicação primordial ao homem político. Mas hão possibilidades de semiose na ciência, gerando, até mesmo em confronto com a Teoria do Caos, uma sensação de incapacidade intelectiva plena. Como mesmo os resultados científicos, e até seus métodos, poderiam estar encharcados de concepções semióticas errôneas: na Teoria do Caos são analisados o funcionamento de sistemas complexos e dinâmicos. Em sistemas dinâmicos complexos, determinados resultados podem ser "instáveis" no que diz respeito à evolução temporal como função de seus parâmetros e variáveis. Isso significa que certos resultados determinados são causados pela ação e a interação de elementos de forma praticamente aleatória. 

 Para entender o que isso significa, basta pegar um exemplo na natureza, onde esses sistemas são comuns. A formação de uma nuvem no céu, por exemplo, pode ser desencadeada e se desenvolver com base em centenas de fatores que podem ser o calor, o frio, a evaporação da água, os ventos, o clima, condições do tempo, e isso para não entrar em fatores invisíveis, não-tangíveis, os desconhecidos, que podem ser aceitos na lógica geral, e os desconhecidos que não podem ser aceitos na lógica geral, além é claro, de supostos fatores metafísicos, fora que a percepção de cada um desses fatores só pode ser feito através dos sentidos, e aqui é chamada a fenomenologia, demonstrando-nos que uma pequena parcela de cada coisa pode ser entendida, e talvez, ainda, de forma errada, diria Peirce. Uma coisa simples torna-se extremamente complexa, já que as causas são totalmente desarraigadas dos efeitos, e nossa concepção lógica desses momentos somente se dão através dos fenômenos dos mesmos, ou seja, uma parcela destacada de eminência desses objetos, e não sua totalidade revelada. E, mesmo assim, apreendidos sob as rédeas da razão, que limitam as apreensões intelectivas às convenções universais, pragmáticas. E, mesmo admitindo que se possa conhecer essas coisas, por meio da intuição (Kant) ou vontade (Schopenhauer), como será feita a comunicação? 
 
  A lenda da Torre de Babel fornece o ar “místico”, que impõe, no âmago da retórica, uma qualidade cética latente, uma metáfora à incompreensão, a não -comunicação - em Górgias temos a máxima “O ser não existe. Mesmo que existisse, não seria cognoscível. E mesmo que fosse cognoscível, não seria passível de comunicar”. Em Agostinho vimos que as coisas podem ser ensinadas via sinais naturais. Mas como haveria sinal de coisa tão complexa? Como poderiam esses sinais serem mais eficientes que um dialeto?