quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Declínio Artístico

Arte: "produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana". (Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa - 2002)

É angustiante notar como é progressivo o desprezo pela boa arte! A sociedade "moderna" está empanturrada de atalhos, empapada em vícios e esquecida do prazer de outrora em produzir algo para o deleite próprio e dos outros. Grandes gênios em suas áreas estão sofrendo depreciação. É cada vez mais atípica a atenção à obras históricas, em todos os campos da arte, da oratória à música, pintura às artes plásticas, de tal modo que grandes artistas já estão em processo de depressão, uma nova paródia ao "mal do século" que afligia a sociedade do século dezenove.
Mas como algo tão absurdo foi acontecer? É o mesmo que dizer que as pessoas enjoaram de ouro, de diamantes...simplesmente deixar de gostar de algo primoroso é de fato estranho...mas dá pra explicar!
Primeiro é preciso citar a maior vilã do século: a mídia! É ela a responsável por manipular os gostos do povo e gerar padrões a serem seguidos. Apoiados nesse recurso, surgiram novos modos de se produzir "arte" - aqui, já deturpada em seu teor. Pessoas sem talento algum começaram a buscar espaço nos campos artísticos, com única finalidade de lucrar. Desses indivíduos nasceram modificações de consagrados estilos. Do Jazz veio o samba - até aí, all right; e depois, o pagode. Do Blues veio o Rock n' Roll, e depois, o Punk Rock. Do Modernismo, vieram o Cubismo, e em seguida o Dadaísmo. Do piano acústico vieram os sintetizadores, e depois os equipamentos de techno-"music"(todos esses terceiros citados são o que costumo chamar de lixo cultural).
Como músico, posso dizer que o funk, pagode, o sertanejo, o rap, o techno, o punk-rock, entre outros, são criações (na maioria das vezes!) de pessoas com necessidade de fama e dinheiro, mas sem talento artístico. Com observação da verdadeira e primeira arte, criaram o fácil inspiradas no complexo (o que chamo de atalho!).
Atenção: cito aqui os estilos já consolidados por conta da publicidade exacerbada da mídia! Todo estilo tem sua graça, e muitos músicos e técnicos de ótima qualidade o produzem...mas o erro foi imaginar que estes deveriam substituir a velha e boa arte. Veja só o que eu digo: você NÃO pode ouvir Jazz, Fusion, Rock Progressivo, Blues, New Age, Erudito, Country, Metal Neoclássico, Folk e instrumentais variados em uma rádio popular. Por isso, grande maioria das pessoas sequer sabem o que são esses gêneros musicais. Estão "presas" às torrentes de porcaria que a mídia empurra - falo também de televisão, revistas, internet. E mesmo quando têm oportunidade de se deparar com a verdadeira arte, acabam na maioria das vezes desprezando-a, achando loucura...natureza humana: temer/desprezar o desconhecido!
Sendo mais radical, gostaria de mudar o significado de música, para resgatá-la enquanto arte, de forma a coibir a evolução dessa repugnante monomania de insistir na divulgação do que não é arte! Aplicaria a idéia de que algo, para ser considerado música, precise atender aos seguintes requisitos:

1 - Possuir harmonia, melodia e ritmo (já aplicado);

2 - Poder, de forma integral, ser anotado em partituras, com diferenciações timbrísticas em notações separadas, provenientes de variados instrumentos - e também na totalidade de áudio monofônico;

3 - Os compositores necessariamente deverão compreender o mínimo de teoria musical, em seus conceitos básicos (se a produção for mesmo música, os criadores são músicos!); e

4 - Os sons deverão partir de instrumentos acústicos, elétricos ou eletrônicos, desde que cada nota em sua estrutura física possa ser explicada.

Com esses requisitos preenchidos, o áudio se enquadraria na categoria artística "Música", ganhando o direito de circular nos veículos de mídia. Caberia à ABM e as gravadoras o monitoramento dessas regras. Com isso, estariam abatidos, definitivamente, o rap, o techno, o dance e o funk (não o Funky, que é o pai do ritmo!). Infelizmente ainda poderão existir outros gêneros, que sim, são música, mas extremamente pobres (técnica e harmonicamente falando). Não seriam abolidos estes citados, podendo ainda circular em CD's de forma livre, em discotecas, bares e eventos, do mesmo modo que hoje é, apenas proibidos de serem reproduzidos em canais de difusão musical. Ou seria o mesmo que vender carne em farmácia, e tratar lesões físicas em clínicas psiquiátricas.
Uma solução à curto prazo para esse crescente empobrecimento cultural é, sugiro eu, que haja uma separação ciclópica entre arte e produção. A produção tem fins meramente lucrativos, que exploram as enormes fendas do capitalismo para existir. A arte é criada pela necessidade do autor em representar sentimentos e situações, com intenções primárias. Vendê-la é mera consequência.
Uma magnífica obra como Mona Lisa de da Vinci, Marabá, de Rodolfo Amoedo; um clássico como a vigésima quarta caprice de Paganini, a Starway to Heaven do Led Zeppelin ou a perfeita Jade, de Mauro Senise (obra primordial!); uma literatura de aventura como Kim, de Rudyard Kipling, Dom Quixote, de Cervantes, A Odisséia de Homero, ou Robinson Crusoé de Daniel Defoe, e O Alienista de Machado de Assis; ou mesmo a maestria obra de Michelângelo esculpida nas igrejas, ou da oratória, representada por Platão, Lênin, Cícero e tantos outros...não podem ser esquecidos!
Pop (do inglês, significa "estouro", ou mesmo uma onomatopéia universal) dá uma perfeita analogia à bolha de sabão...rapidamente estoura, e desaparece - um "hit" de forró, pagode ou sertanejo surge e não dura mais do que um ou dois anos. Uma obra erudita como a quinta de Beethoven permanece para todo o sempre. Taí a diferença!

2 comentários:

Robson disse...

Olha Carlos, você como escritor é ótimo, mas como músico.... kkkkk. Por mais simples que seja o punk rock ele não é uma coisa de "modinha", na sua época teve muita importância para mostrar para a sociedade o ponto de vista dos jovens. O punk rock na verdade foi uma forma de protesto dos jovens. Defendo o punk rock, mas o resto... quem precisa de resto para viver?

Carlos Speedhertz disse...

Haha...valeu pelo comentário. Mas acho que não entendeu direito...disse pelo ponto de vista técnico. Não dá p encontrar um acorde diminuto, ou mesmo um compasso 5/4 num Ramones...estou certo? O Punk foi importante por ser um grito de protesto, sim. Mas nesse quesito, iguala-se à situação atual da França (protestando contra a "reforma" da previdência - e sem música!). Valeu!