sábado, 26 de março de 2011

Discussão sobre "nada"




Não havia me deleitado ainda sobre essa questão...quando fui indagado, atentado a responder, reservei alguns minutos para pensar.


 Trata-se de uma necessidade linguística? É meramente uma palavra?
Talvez sim!
De fato, enquanto apenas uma palavra, é inofensiva.
Quando pensamos (extrapolando a metalinguística) o "nada", o criamos. Ele se torna objeto. Aí é que começam os problemas!


Segundo o dicionário Aurélio:


nada
[Da loc. do lat. tard. res nata, ‘nenhuma coisa nascida’, que, com elipse do não (res [non] nata) e perda do res, passou a significar ‘coisa alguma’, ‘nada’.]
Pronome indefinido.
1.Nenhuma coisa; coisa alguma:
Não estuda nada, nada sabe. [Sin. (bras., pop.) níquel, (p. us.) bus, e (gír.) lhufas e nicles.]
Advérbio.
2.De modo nenhum; absolutamente não:
É um pequeno esperto, nada tolo.
Substantivo masculino.
3.A não existência.
4.V. ninharia:
Brigaram por um nada, uma tolice.
5.Pessoa insignificante, seja pelo aspecto físico (quando o termo tem, muitas vezes, significado carinhoso, e é, tb., us. no dim.), seja pelo intelectual ou moral (quando o termo é, em geral, us. pejorativamente):
É pequenininho, um nada;
É um nadinha de gente;
Era um escritor de meia-tigela, um nada.
6.Filos. O que se opõe ao ser, em graus e em sentidos diversos; não-ser. [Abre-se o nada à reflexão quer mediante categorias do pensamento, sendo concebido como negação, privação ou limite, quer mediante experiências de ordem afetiva pelas quais se revela ao ser humano a finitude. Em Heidegger, p. ex., o nada se revela pela angústia (5) (q. v.), como componente do Dasein (q. v.).]



Todas as concepções que tive sobre o assunto descrevo, em ordem cronológica:




 1. A existência do tudo neutraliza o nada, por negação?


Essa foi uma de minhas primeiras percepções. Seria antagônico conservar os dois em um mesmo universo. Se há o tudo, não sobra espaço para o nada! Um anula o outro. Dizer que o nada existe, implicaria na destruição da majestade do tudo. Ele não pode ser parcial! Ou é ou não é!
Mas há uma falha nessa lógica: Se pensarmos alguns outros opostos, iremos encontrar harmonia nos dois.
Exemplo: Frio e calor. Nenhum anula o outro. Eles coexistem. Onde não há um, há outro. Ainda assim acho melhor pensar nos dois como um só. Uma unidade de equilíbrio (Tao), Yin e Yang, são partes do mesmo, um só ser. Há um pouco de um em outro, e vice-versa.

É uma medida:

Mais frio / menos calor
            Ou
Mais calor / menos frio



Bem, passemos para o próximo argumento.


 2. A aplicação semiológica é viável para o nada?


Dá para dizer que o nada significa algo? Em alguns contextos, me parece que sim. Mas não há uma aplicação universal para o termo. É complicado imaginar, através dessa ótica, já que seria um paradoxo: o nada é nada, e significa algo? Então já transcende o próprio termo, e se torna objeto. A partir daí, é aplicável o estudo dentro da semiose, mas saímos da questão, completamente. O nada se tornou algo, então se transfere para o universo do tudo...e se ele faz parte do tudo, então já não existe mais. Dilemático!



 3. O nada como experiência empírica

A experiência sensível é tida, para os defensores da tradição empírica (Francis Bacon, Locke, Hume) como única forma de conhecimento. É contra, por exemplo, o racionalismo cartesiano ("Eu existo porque penso"). Se pensarmos nessa corrente filosófica como veraz, talvez sejamos levemente acalentados dessa agonia de não poder definir o nada. Do seguinte modo: NUNCA vivemos ou sentimos o nada! Logo, não podemos definí-lo.



 4. Um nada por aproximação

Conclusão que me parece mais aprazível, sem subjugar os argumentos anteriores. O nada é interpretado de forma errônea pelo homem. É um "bem-aventurado" senso-comum (como tal, efusivo sobre as interpretações). Uma mera aproximação, bem inábil, para descrição de fatos, como:


 - Joaquim, o que você fez hoje?
 - Ah, eu não fiz NADA.


Hum...não fez nada? Bem por certo ele estava morto então! (mais uma questão: morto é um estado? O estado é ente? Ou será um ser?)

Deixando o sarcasmo de lado:
Ele não estava à fazer nada. Respirava, movia-se, pensava...isso para dizer o mínimo. Então, algo ele fazia.
Vamos ao segundo exemplo:


 - O que há nesta caixa?
 - Não há NADA.


Na verdade, há algo na caixa. Não nada. Gases, bactérias, poeira, vestígios do que já esteve na caixa, vestígios do material que compõe a caixa, etc.
Dizer "nada", nesse exemplo, significa dizer que algo útil, ou pelo menos visível, está ausente.



A discussão sobre o "nada" é bem "velha" na metafísica. Algumas conclusões à respeito da mesma foram conservadas, como as suposições de Heidegger. Bem, então parece que aí, ao definir, o termo ganha uma "roupa" e se torna algo, mais uma vez.
Por que não deixá-lo carente de sentenças, e libertá-lo, enfim? O "nada" não é um nada é, e sim um nada não é.

Bem, por fim encerro o texto. Talvez o único em que "entender nada" se torna um bom entendimento.

2 comentários:

Giovanna disse...

Meus parabéns pelo post, muito bacana! Depois de ler seu texto vou parar um pouco mais pra pensar em "nada". rsrsrs Grande beijo

Carlos Speedhertz disse...

Haha...
Alguns diriam "NADA a ver"...
Outros não vão entender NADA
Mas que NADA...
O importante é o NADA entender...rs
Obrigado pelo comentário!